terça-feira, 2 de agosto de 2011

O Martirio do guerrilheiro Eduardo Colem Leite, o Bacuri

O Martírio do Guerrilheiro
Eduardo Colem Leite, o Bacuri
Bacuri (codinome Rafael) era um dos guerrilheiros mais “façanhudos”, chegando inclusive à passar por um barreira policial abrindo caminho à bala. Foi um dos militantes que participaram do sequestro do embaixador alemão. Sua morte na tortura foi uma das mais cruéis e se tornou símbolo do terror da repressão militar. Nesse trecho do livro Viagem à Luta ArmadaCarlos Eugênio Paz conta como Bacuri, através de telefonemas ameaçadores para o DOICODI, conseguiu libertar sua mulher Letícia, que estava grávida. Que as novas gerações conheçam a história de Eduardo Colem Leite, o Bacuri.
AS TAREFAS de implantar Altino, preparar a Quinzena e conseguir dinheiro caminham a contento, mas recebemos um golpe irreparável, a queda de Rafael no Rio de Janeiro. Um capitão do serviço secreto do Exército, infiltrado na FL (Frente de Libertação Nacional), pequena organização dirigida pelo ex-major Cerqueira, entrega nosso combatente, durante levantamento do embaixador inglês, à equipe de busca e tortura do deIegado do DOPS-SP, responsável pelo assassinato de Fabiano. Começa o martírio de um militante inestimável e nossi luta desesperada para salvá-lo das garras de seus algozes.

Por que tudo aconteceu com Rafael? Penso nisso do meu túnel, minhas seringas, meus espelhos e meus sonhos, Às vezes julgo encontrar a resposta, de repente as imagens se obscurecem e a certeza se esvai. Rafael era um grande quadro de ação e sabemos o tratamento que eles recebiam nas mãos dos torturadores, mas o caso dele foi ímpar, pelos requintes de crueldade. Torturado semanas a fio, com algumas pausas para recuperar as forças e voltar ao sofrimento, até a morte. Não abriu pontos, mas continuou a apanhar como se ainda pudesse fazê-lo. Não conhecia aparelhos, mas os choques não paravam. A Organização sabia de sua prisão, mas o famigerado delegado disputava Rafael com o DOl-CODI, se aliando ao CENIMAR, escondendo-o em delegacias do subúrbio de São Paulo, somente para ter o prazer de comandar sua destruição. Podiam ter matado Rafael na rua, estava desarmado graças a um ardil do traidor, mas fizeram questão de prendê-lo vivo. As informações que tinha se tornaram obsoletas e seguiam torturando-o como se disso dependesse o fim da luta armada no Brasil. Já falei de seu olhar e de seu sorriso, mas é dificil descrever a luminosidade que transmitia sua presença. Sua dedicação era emocionante, não perdia tempo, agia e pensava os destinos da luta, incentivando os companheiros a fazerem o mesmo. Estive presente em dois momentos terríveis de sua vida: a morte trágica de Alberto e a prisão de Letícia, sua companheira, grávida de poucos meses.

EU E MARCELA vivemos em um quarto isolado na casa de Rafael, onde morreu Alberto, reservado para futuros seqüestros e situações de emergência, enquanto procuramos um imóvel adequado para montar um aparelho. Uma tarde, voltamos de olhos fechados para não conhecermos a localização, quando Rafael, nervoso, ordena: - Abram os olhos, deu merda.
Engatilho a matraca, pronto para o combate, e olho na direção que meu companheiro aponta. Letícia está sendo presa e não podemos fazer nada, são muitos, os homens do DOl-CODI, morreríamos todos.
— Filhos-da-puta, prenderam Letícia e ela está grávida, vão matá-la e ao bebê para saber onde estou. Vou ligar para o vizinho tentando um contato, talvez sabendo que estou informado da queda ela tenha uma chance. Vamos sair da área, está muito perigoso por aqui.
Rodamos até uma padaria tranqüila nas cercanias do Ibirapuera, pedimos cafés e ocupamos o telefone, costas guardadas por Marcela. Rafael liga para o vizinho e pede que chame Letícia, eles impedem o contato. Resolvemos telefonar para o comandante do II Exército, ele não atende, Rafael fala com o ajudante-de-ordens, um tenente-coronel.
— Aqui é Rafael, guerrilheiro da ALN. O DOl-CODI acabou de prender minha mulher e vão torturá-la para me entregar. Não há necessidade disso, assistimos a sua prisão, não tem mais informações a dar. Seu comandante responde pela vida dela e a do bebê e, se algo acontecer, não descansaremos enquanto não matá-lo. Transmita a mensagem imediatamente, senão será você o responsável. Volto a chamar para saber o que o general decidiu.

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