segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Guerrilha no Brasil - Fusca modelo peneira


Guerrilha no Brasil - Fusca modelo peneira

guerrilha no Brasil - Carlos Eugênio Paz

Reproduzo hoje mais uma parte do livro Viagem à luta armada de Carlos Eugênio Paz: último comandante da ALN vivo. Nesse trecho ele relembra um de seus conflitos com a repressão. Através de suas memórias, podemos conhecer um pouco das histórias de luta desses brasileiros, que arriscaram suas vidas para tornar nosso país um lugar mais justo.

COM DIOGO morrem as possibilidades de lançamento imediato da guerrilha rural. Atônitos, recomeçamos a reunião, com a nova realidade a enfrentar, precisamos traçar novas diretrizes e assumir o comando da Organização. Aqui, a experiência de Tato mostra-se de grande valia.

— Temos que imprimir um documento dirigido à nação e espalhá-lo pelas ruas aproveitando a Campanha do Voto Nulo. Um documento interno deve conclamar os militantes a cerrarem fileiras em torno da Coordenação Nacional para que possamos, no mais breve tempo, retomar os planos de levar a luta ao campo. Devemos realizar ações para levantar o moral, mas não há mais sentido em desencadear a Quinzena Fabiano. Cada um de nós deve sair daqui com a firme convicção da necessidade de prosseguir a luta até que libertemos nosso povo da opressão. Se alguém não quiser assumir essas responsabilidades tem a obrigação de falar agora, outros podem realizar suas tarefas, diante do quadro, não seria vergonha um recuo. Vamos contatar as organizações da Frente e declarar nossas intenções de continuar a trabalhar no mesmo espírito de colaboração implantado por Diogo. Estando todos de acordo, nos resta seguir em frente, o trabalho será longo e penoso, e nós, como Coordenação Nacional, devemos dar o exemplo e demonstrar confiança em nossos propósitos. Não é hora de chorar nossos mortos, e sim de honrá-los.

Arregaçamos as mangas e começamos a reconstruir nossos esquemas. Continuo no comando militar de São Paulo, ajudado por Altino, Hélio volta ao Rio, Tato sai em busca de recontatar nossos esquemas na Área Estratégica Mário desaparece logo depois de sair do aparelho, deixando de cobrir os pontos com a Organização, sem dar nenhuma notícia. Não sabemos se caiu ou se fugiu do país, eu e Marcelaabandonamos nosso apartamento e, enquanto procuramos alugar uma casa, dormimos em lugares inusitados, arriscando nossas vidas. Ora pegamos um ônibus até Aparecida do Norte, cidade de romeiros, acostumada a receber todo tipo de gente, o que nos dá certa tranqüilidade, ora dormimos no trem noturno até Bauru, onde descemos e pegamos outro de volta, dormindo mais algumas horas.

Hugo e Seishi nos oferecem solidariedade, mas nossa estrutura na cidade está incólume, o traidor não conseguiu penetrá-la. Resolvo começar a Campanha o mais rapidamente possível, temos que mostrar nossa disposição de luta. Saio às ruas para panfletar com Marcela e Seishi.

Eu ao volante com minhas armas pessoais e a indefectível metralhadora no freio de mão, Seishi no banco do carona, com outra matraca, Marcela atrás, pistola e revólver.

Vila Prudente, favela, passamos pela rua que a ladeia, paramos em cada viela de acesso, distribuímos o material e seguimos em frente. Já estivemos em três bairros sem problemas. Terminados os panfletos, acelero, precisamos sair da área. Algumas centenas de metros mais à frente, um caminhão manobra bloqueando a rua. Diminuo a velocidade e paro o carro controlando os retrovisores. Um táxi VW 1600 vem em nossa direção com os faróis acesos e as duas portas traseiras abertas. Sinal de perigo, dou o alarme.

— Polícia...

Meu faro instantâneo salva vidas, O táxi nos ultrapassa pelo meu lado e freia nos fechando em diagonal. No momento em que nos abaixamos, balas espatifam o pára-brisa e zunem acima de nossas cabeças. O cheiro acre me desperta para o combate. Abro minha porta para servir de escudo, disparo pela janela o primeiro pente de pistola, recarrego, recomeço os disparos e grito:

— Sai com a matraca, Seishi, dou cobertura...


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