Júlio vive e morre
A prisão do guerrilheiro Celso Lungaretti


Em 1970 Celso Lungaretti, codinome Júlio, foi preso pela repressão militar. Além das bárbaras torturas que lhe deixaram surdo de um ouvido. Ainda teve que sobreviver durante anos sendo chamado de traidor pelos companheiros de Esquerda porque aceitou participar da encenação de um falso arrependimento na TV, armada pela ditadura militar como forma de propaganda contra a “subversão”. Depois de 40 anos ele conseguiu provar sua inocência. Abaixo o relato do dia em que ele foi preso. O dia que mudou sua vida para sempre.
16 DE ABRIL DE 1970
Júlio chega à praça Saens Peña às 6h38 do dia 16 de abril de 1970.
É uma fase de arbítrio e intolerância. Os partidos e organizações que ousaram pegar em armas para resistir à ditadura militar pagam um preço bem alto: as notícias de prisão e morte de militantes são praticamente diárias. Há indícios de melhora da situação econômica do País.
Ele veio de ônibus, calculando que daria tempo. Deu. O ponto com o Ivo e os dois simpatizantes está marcado para as 6h45.
Outro motivo para ter optado pelo ônibus é a certeza de que o coletivo estaria quase vazio nesse horário. Ótimo para quem precisa tomar cuidado com o revólver que traz na cintura, encoberto pela camisa folgada, que usa fora da calça.
Nesta manhã de quinta-feira Júlio não tem outros compromissos. Baterá um rápido papo com os simpatizantes que Ivo vai lhe passar e pronto! Estará livre para voltar ao quarto que aluga na casa de uma simpática velhinha do Rio Comprido (ótima cobertura, nada de fichas para preencher, nada que possa atrair atenções indesejáveis).
Para manter a fachada de vendedor, às vezes ele é obrigado a ficar matando tempo pela cidade mesmo quando não tem nenhuma tarefa da Organização para cumprir. Nesta semana, entretanto, ele disse à Dª Chica que ganhou alguns dias de folga.
Como os dois comandantes de unidades de combate foram convocados pelo Lamarca para uma reunião de emergência na área guerrilheira, não há muito para um comandante de Inteligência fazer.
Assim, Júlio tratou de arrumar uma desculpa para manter horários mais flexíveis. E, como vantagem adicional, pôde sair à paisana, sem o terno desconfortável para o clima carioca nem a pasta 007 em que costuma levar o seu .38 e uma caixa de balas.
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